Homem de poucas palavras, excelente profissional e amigo do seu amigo. É desta forma que Manuel Fernandes e António Nogueira, antigos colegas de Ferenc Mészáros, recordam o guarda-redes que brilhou em Alvalade durante as temporadas 1981/1982 e 1982/1983. Apesar de não ser muito alto (1,83m), o húngaro que jogava com o pé esquerdo encantou os Sportinguistas com defesas improváveis e um estilo peculiar, contribuindo para a conquista de um Campeonato Nacional, uma Taça de Portugal e uma Super – taça nos 80 jogos que disputou de Leão ao peito.

 Quando Mészáros chegou a Lisboa oriundo do Vasas SC de Budapeste, aos 31 anos, até porque por lei os atletas magiares só podiam ser transferidos para o estrangeiro a partir dos 30 Manuel Fernandes era capitão da equipa Leonina orientada por Malcolm Allison. Desde cedo percebeu que ali estava um guardião que traria “grandes alegrias dentro de campo”. “Ele era calado e não gritava muito com a equipa, mas estava sempre muito concentrado. Entre todos os guarda-redes com quem joguei, ele e o Vítor Damas eram os melhores. Aliás, diria que foi o melhor estrangeiro que jogou no Sporting CP, e houve alguns bons que passaram pelo Clube”, começou por dizer o ex-avançado ao nosso jornal.” Ele tinha muita perspicácia. Era discreto, cometia poucos erros e transmitia muita segurança à equipa. Lembro-o com muita saudade e alegria, era uma pessoa maravilhosa, séria e honesta. Tive muitos colegas de profissão, mas há amigos especiais colegas e o Mészáros é um deles”, considerou Manuel Fernandes, não escondendo sentir-se “emocionado”.

 Quanto à melhor exibição do ex-colega, aconteceu em casa do Southampton FC, em 1981 para a Taça UEFA. “Estava agora mesmo a rever esse jogo. Ganhámos 2-4, mas fomos massacrados e ele fez defesas impossíveis”, lembra, recuperando a história algo caricata: “Ele era um grande profissional, mas tinha o vício de fumar. Quando na primeira parte ficava na baliza virada para o balneário, combinava com o roupeiro para ter um cigarro aceso para dar duas passas rápidas”.

 Já António Nogueira, ex-médio que passou pelo Sporting CP nas mesmas duas temporadas que Mészáros, descreve “ um grande homem”. Não complicava nada e era amigo do seu amigo, um espectáculo de pessoa, além de um grande guarda-redes, claro”, revela, elogiando a qualidades dentro das quatro linhas. “Lançava muito bem o contra-ataque com mão. Às vezes também com o pé, mas com a mão metia a bola nos extremos já depois do meio-campo. Mesmo a sair da baliza, nunca vi ninguém como ele”, frisa, confessando que o internacional húngaro, que esteve nos Mundiais de 1978 e 1982, “foi talvez o melhor guarda-redes de todos os que passaram pelo Sporting CP, não só dos estrangeiros”. “Lembrou-me de um jogo em que ele estava em cima da linha de baliza, veio um cruzamento e ele agarrou a bola e colocou-a para trás dele. Fingiu que ia ser golo só para dar baile ao adversário, era tremendo. Acreditávamos muito nele, já sabíamos que se a bola fosse à baliza ele defendia quase tudo”. Fora dos relvados, António Nogueira e Mészáros eram próximos “Cheguei a ir a casa dele, em Miraflores, com a minha mulher e as minhas filhas para comer a comida tradicional húngara. Íamos muito lá e ele gostava muito de mim. Fui eu que lhe ensinei português, mas não foi difícil pois ele aprendia depressa”.   

 Em 1983/1984, Mészáros prosseguiu a carreira com a camisola do SC Farense e, na temporada seguinte, regressou à Hungria para jogar no Gyóri ETO. Isto, até receber novamente um convite vindo de Portugal, desta feita do Vitória FC, que era orientado precisamente por Malcolm Allison. Esteve três épocas em Setúbal, onde reencontrou ex-colegas como Manuel Fernandes ou Jordão, até pendurar as botas em 1989. Apostou depois na carreira de treinador, iniciada no Vasas SC até que voltou a desembarcar em Portugal para liderar o SC Lourinhanense na altura emblema satélite do Sporting CP, onde começava a despontar o jovem guardião Tiago Ferreira. “Recordo o Mészáros com muito carinho, marcou-me muito no início da minha carreira. Estava no SC Lourinhanense quando ele era o treinador e depois fui com ele para o Sporting CP quando ele regressou a Alvalade (em 1995/1996). Foi ele que me descobriu”, conta o actual treinador de guarda-redes da equipa principal Leonina, explicando depois a história com maior detalhe. “Fui fazer testes a Guimarães e era para assinar pelo Vitória SC, mas no dia em que regressei a Lisboa ele soube e ligou-me a dizer para ir treinar ao Sporting CP. Fiz testes em Alvalade, pois ele era o treinador de guarda-redes do Carlos Queiroz, e passados dois dias assinei pelo Sporting CP”. E como era Mészáros no papel de técnico? “Era muito exigente nos treinos, mas também gostava de brincar. Acreditava em tudo o que ele dizia e, se fiz a carreira que fiz, devo-a muito a ele pois ensinou-me quase tudo. No início os jogadores precisam, de bases e ele tornou-me mais forte, além de ser impecável e boa pessoa. Lembrou-me de que estava sempre tranquilo”.

O Mészáros, o Sporting Clube de Portugal, não deixando de enaltecer e agradecer a dedicação e devoção que sempre prestou ao Clube.

Orlando Fernandes