Pode ser impressão minha, mas noto em Vítor Bruno uma certa contração – do corpo e do discurso – quando tem de falar sobre os assobios que alguns setores do Dragão têm dirigido à equipa que (supostamente) apoiam. A polida reação do treinador do FC Porto é compreensível, entre a obrigatoriedade de defender o grupo de trabalho que lidera e a necessidade de evitar já um choque frontal com os adeptos. Vítor Bruno vai-se esforçando por respeitar aquela velha máxima que diz que o cliente tem sempre razão, mas o desconforto da equipa fica bem patente quando Galeno e Samu, duas das figuras deste início de época do FC Porto.
Após um dos verões mais agitados da história do clube, a equipa principal leva 11 jogos disputados na temporada. Entrou logo a ganhar, a Supertaça Cândido Oliveira, único troféu já atribuído, e só não triunfou em três ocasiões: no clássico da Liga disputado no reduto do campeão Sporting, e nas duas primeiras jornadas da Liga Europa. Se o empate caseiro com o Manchester United pode ser visto como aceitável – na relação entre o valor teórico do adversário e o momento que atravessa -, só a derrota na visita ao Bodo/Glimt foge à normalidade, mesmo tendo em conta as dificuldade da deslocação à Noruega. O registo na Liga mostra um dragão a três pontos da liderança leonina, a protagonizar o melhor arranque dos últimos cinco anos, em, linha com as melhores épocas de Sérgio Conceição, que nunca conseguiu oito vitórias, mas que fez 22 pontos em igual número do jogos da temporada 2017/2018.
Também não será pelas exibições que os assobios estão justificados. O FC Porto de Vítor Bruno tem praticado um futebol atrativo, de cariz ofensivo, a colocar muitos jogadores em zonas adiantadas no terreno. Essa vertigem bem, de resto, gerado também algum desequilíbrio defensivo, embora a principal explicação para os momentos menos positivos até esteja mais no lado emocional de uma equipa em matação. O contexto financeiro obrigou o FC Porto a gerir o mercado de forma tardia, mas a equipa, mesmo com a introdução gradual de alguns reforços, tem encontrado estabilidade.
Os assobios do Dragão não têm nada a ver com o que se passa dentro de campo são ainda consequência do processo eleitoral. Quem assobia também está a torcer, mas pelo insucesso da equipa, na esperança de vir a ter aquele prazer mesquinho de dizer que tinha razão.
Orlando Fernandes