Nas dezenas de ações que tenho dinamizado um pouco por todo o lado, a recetividade é sempre excelente. Mesmo os mais céticos a um Desporto com ética se rendem. Depois, quando fazem a transposição para a prática, nem sempre as coisas correm bem. E aí a minha frustração, por vezes.
Não sou utópico ou ingénuo. Não sou eu que vou em contramão. Os promotores de ódio e usuários de terminologia balística têm palco diário e amplificado. Mas não são genuínos. Não têm as convicções que me movem na promoção da prática desportiva.
Sei que temos de ter em conta que, no desporto, a frustração surge diversas vezes. Mais do que o sucesso. São muitos os fatores que surgem e que não controlamos, e muitas vezes, a definição de obtenção de sucesso é subjetiva.
Cada vez mais a diferença entre adversários é menor, pelo que se torna vital conseguir ultrapassar as contrariedades e as desilusões, de forma a estar sempre em condições de continuar a lutar pelo sucesso. A superação é a base do desporto de competição.
Os aspetos positivos são muito mais o foco do que os negativos. É para os aspetos positivos que temos de orientar a nossa participação. Não devemos ficar agarrados a conflitos e situações que não controlamos. Os próprios treinadores e dirigentes têm de saber quando o jogo acaba e que não podem dar largas a um descontrolo emocional.
Infelizmente, a nossa cultura desportiva é básica. Primitiva. Os adeptos, anónimos, não têm de ser independentes ou isentos. Não têm de proteger o desporto. Ir para uma rede social insultar, ser incoerente ou ser ridículo diz muito sobre essa pessoa. Nada mais. Só a vitória do seu clube lhe importa. A forma é indiferente.
Quando é um agente desportivo o compromisso com o desporto tem de ser total. Sempre ser responsável. Respeitar a modalidade. Aceitar o erro como parte do jogo. Os erros e fracassos fazem parte dos momentos de um atleta, de um treinador ou de um clube. Tentar perceber o porquê e reavaliar objetivos de desempenho são sempre a solução.
Ressabiados, frustrados ou que se acham importantes fazem figuras muito tristes e que colocam em causa a atividade. Nenhum clube ou agente desportivo está acima da modalidade.
Por isso, na formação, o trabalho é de maior responsabilidade. Temos de fazer compreender que o insucesso é uma presença inevitável no desporto e que dele faz parte. Os treinadores devem ser realistas e sinceros, definindo objetivos de desempenho individuais no contexto do objetivo coletivo. O clube deve validar estes objetivos. O que muitas vezes rotulamos de insucesso não é mais do que o facto de o adversário ter sido melhor do que nós. Devemos ajudar a enfrentar a verdade.
Se ensinarmos os jovens a lidar com o insucesso, estamos a aumentar significativamente as possibilidades de eles virem a ter sucesso na atividade, independente da função: atleta, treinador, dirigente, árbitro, médico, jornalista ou adepto.
O espetáculo desportivo tem de ser defendido em detrimento do conflito desportivo. Precisamos e queremos um desporto acolhedor, seguro e festivo.
Vitor Santos (Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto)