Nos últimos tempos, tem-se tornado recorrente assistir a uma crescente suscetibilidade por parte de alguns treinadores — sobretudo os que recentemente se aventuram no futebol sénior distrital — perante comentários, análises e opiniões veiculadas pela comunicação social local.

Recentemente, no programa Tarde Desportiva da Rádio Clube Aguiarense, fiz um comentário sobre o desempenho de um treinador que, até à jornada do último domingo, não somava qualquer ponto no comando da sua equipa e ainda um score de dois golos marcados e muito perto das duas dezenas de golos sofridos. Um registo factual. No entanto, o técnico em questão enviou uma mensagem onde afirma “lamentar profundamente que um órgão de comunicação social do nosso distrito opte por desvalorizar o trabalho de um treinador, atacando a sua imagem em praça pública”, acrescentando ainda que “esperava-se mais elevação, imparcialidade e respeito”.

Convém esclarecer: imparcialidade não é sinónimo de omissão. Nem de complacência. Ser imparcial é relatar os factos, comentá-los com isenção, mas também com verdade. E a verdade, por vezes, dói. Dói especialmente quando os resultados não aparecem e a pressão se acumula. Mas o papel de um jornalista ou comentador desportivo não é o de agradar, é o de informar e, quando pertinente, opinar com base em dados concretos.

Não é papel da comunicação social embalar egos, mas sim contribuir para a análise crítica do futebol — mesmo no contexto distrital. Aqueles que se incomodam com a leitura factual de uma má fase devem, acima de tudo, olhar para dentro e trabalhar mais, em vez de tentar calar ou intimidar quem apenas cumpre a sua função. A crítica, quando sustentada, faz parte do jogo. E quem não está preparado para isso, talvez não esteja preparado para o cargo que ocupa.

Estamos, muitas vezes, mais preocupados com a forma do que com o conteúdo. O futebol não se resume ao balneário, e o espaço público exige — responsabilidade, resultados e, sim, aceitação da crítica.

Por isso, reafirmo: o comentário feito foi objetivo, baseado em números nos jogos realizados. Lamento que a verdade incomode, mas não deixarei de a dizer. E enquanto houver microfones ligados, páginas publicadas ou programas no ar, há uma obrigação: informar com isenção, comentar com liberdade e respeitar, acima de tudo, os ouvintes — que também merecem conhecer a realidade, sem filtros.

Por Luis Roçadas