Chega praticamente ao fim mais uma temporada desportiva e, como é habitual, é tempo de balanço. Depois de mais um ano intenso a percorrer quilómetros, a viver finais, vitórias e derrotas, e a dar voz ao desporto regional, dou por mim a fazer uma reflexão que, infelizmente, se repete de época para época: será que vale mesmo a pena continuar?
Há cerca de 30 anos que estou ligado à informação desportiva regional. Vi crescer clubes, acompanhei gerações de jogadores, assisti à evolução do futebol e de outras modalidades, e nunca pedi nada em troca. O único objetivo sempre foi divulgar o que de bom se faz nas nossas terras, dar palco a quem raramente o tem. Contudo, há atitudes que, vindas de certos agentes desportivos, sejam eles jogadores, diretores ou treinadores, nos fazem questionar se ainda faz sentido todo este esforço.
Recentemente, após um título distrital conquistado por um clube sénior, um jovem jogador decidiu, num gesto irónico e provocador, “dedicar-me” a sua medalha. Talvez não tenha gostado de algum comentário ou análise que escrevi ou falei. É novo, tem muito para aprender, mas representa uma geração que parece esquecer, ou desconhecer, o papel fundamental que os meios de comunicação social regionais desempenham.
Também um agente desportivo de um clube, ainda jovem, talvez inexperiente nestas lides, reagiu de forma pouco elegante a uma notícia publicada, demonstrando, digo eu, falta de visão sobre o que é o jornalismo desportivo local. E um treinador, ainda sem grande currículo para se escudar, achou por bem remeter-nos uma mensagem em tom depreciativo, questionando o valor do nosso trabalho.
Estas atitudes, que infelizmente se tornam cada vez mais frequentes, colocam-nos perante um dilema difícil: continuar a sacrificar tempo, energia e até momentos familiares, em nome de uma causa que nem sempre é reconhecida por quem mais dela beneficia?
Estamos vacinados contra críticas e até contra a ingratidão. Faz parte. Mas isso não significa que sejamos indiferentes. A verdade é que a imprensa regional, em particular a desportiva, vive muito do empenho voluntário e apaixonado de quem acredita no valor das histórias locais. Se os “da velha guarda”, que ainda resistem, deixarem de acreditar, quem virá depois? Como será o futuro da informação desportiva regional?
É hora de todos, jogadores, treinadores, dirigentes, refletirem. Porque no dia em que os jornais, os sites, as rádios deixarem de estar presentes, talvez percebam, tarde demais, o quão essenciais eles eram para o crescimento dos clubes e para a promoção dos seus feitos.
Enquanto diretor do Desportivo Transmontano, levo comigo esta dúvida cada vez mais pesada: será que vale mesmo a pena? Por enquanto, a resposta continua a ser “sim”, mas por quanto tempo mais?