Frederico Varandas, presidente do Sporting, deixou pouco por dizer sobre o caso dos e-mails – e sobre o Apito Dourado – na entrevista que concedeu à RTP. E honra lhe seja feita: sempre que tem oportunidade, ataca aquilo a que um dia Dias da Cunha chamou de ”sistema”.
Para Varandas, Pinto da Costa foi a maior doença do futebol português – e foi curiosa a forma como, nesta entrevista, reagiu à comparação da dupla que forma com Rúben Amorim com a que o antigo presidente do FC Porto formou com José Maria Pedroto, mais a norte, no século passado. “Já foi insultado de tudo (…), mas seria horrível se fosse comparado a esse presidente”, respondeu.
Luís Filipe Vieira, entende o líder do Sporting, não fica muito atrás, tendo copiado, com ajuda de Paulo Gonçalves – a quem também se refere de forma nada simpática -, o modus operandi de Pinto da Costa para o Benfica. Concede que talvez o tenha feito pelas frustração de nada vencer mas recusa-se a aceitar que se deva viver sob o lema. Se não pode vencê-los, junta-te a eles (ou pelo menos imita-os).
Mas que efeitos provocará esta cruzada a favor da verdade desportiva, se contra a manipulação de resultados? O próprio Varandas dúvida que o caso dos e-mails venha a resultar em condenações em tribunal, pela dificuldade que o Ministério Público sempre tem de fazer prova em casos de corrupção (mais ainda numa eventual) condenação da SAD do Benfica, tendo de ficar provado que beneficiou das ações dos seus dirigentes). Sobre a propaganda para dentro, para os adeptos do Sporting, e pouco mais. Tal como a justiça terá dificuldades em punir as más práticas do futebol português, também não parece provável que sejam as palavras e a insistência de Varandas que venham a acabar com elas, por muito boas que sejam as intenções.
Quanto ao que, actualmente, mais preocupará os adeptos do Sporting, a possibilidade de Rúben Amorim e ou Gyokeres acompanharem Hugo Viana na viagem para Manchester no final da época, Varandas deixou poucas ou nenhuma garantia – fê-lo no caso do sueco, mas apenas quando a uma eventual saída em janeiro, que só alguma consciência de como as coisas mudam no futebol o coibiu de classificar como impossível. Aprecio a honestidade, menos a tentativa de fugir ao assunto. Até porque, mesmo tendo Amorim contrato até 2026 e Gyokeres até 2028, a continuidade de um ou de ambos no Sporting não está, na verdade nas mãos do presidente.
Orlando Fernandes