Roberto Martínez sai com muito pior imagem do que aquela com que entrou no Europeu, embora dificilmente esteja em risco, não só pelo contexto (discutível) que o rodeia na Federação, mas também por ter sido o primeiro torneio e porque não há vergonha em ser eliminado pela França, mesmo que os bleus tenham mantido em Hamburgo apenas o esbatido brilho o que acompanha desde o débil estreia com a Áustria.

 Não há, portanto, razões objetivas para a saída, quiçá apenas subjetivas (ainda que claras), relacionadas com a gestão do grupo e dos egos, e até com a falta de fio de jogo e a má leitura durante as partidas (talvez também condicionada pela mesma gestão). No entanto, aquela personagem simpática, em que continuamos estupidamente a valorizar em excesso o expressar-se em português, e que com discurso cordial e qualificação, em mácula tinha diluído as sensações negativas deixadas ao serviço da Bélgica no Catar, abriu o flanco às críticas.

 Talvez lhe falte tempo para consolidar uma identidade, contudo, não será através de horas extraordinárias que erradicará as fragilidades confrangedoras que mostrou na liderança, potenciadas pelo rendimento medíocre (esperado, embora não a um nível tão baixo) de Ronaldo. A Martínez falou coragem para decisões difíceis, sempre péssimo sinal num líder. Apenas se viu a todos por um do grito de guerra dos Três Mosqueteiros de Duma, lema que poderá ter virado contra os franceses, sendo que o um não dizia respeito ao coletivo, mas a uma individualidade, que por sua vez, não percebeu a completa extensão do seu papel o do um por todos.

 Curiosamente, Portugal voltou a assinar a melhor exibição no adeus, depois das derrotas com o Uruguai no Mundial – 2018 e Bélgica no Euro – 2020. Vimos uma equipa mais ligada e consciente. É verdade que a liberdade oferecida a Bernardo pecou no isolamento de Cancelo, mas deu outras coisas. Tal como Bruno Fernandes e Vítinha pareceram finalmente entender-se na organização conjunta e nos terrenos que ocupavam Leão e Nuno Mendes criaram muito e com maior associação entre si, embora ainda longe do ideal, e quem entrou acrescentou valor. Talvez Matheus Nunes tenha surgido demasiado tarde já que o jogo pedia quem levasse a bola pelo meio de pernas cansadas. Falharam-se golos (Vítinha, Ronaldo, Nuno Mendes…), faltaram outras abordagens a valências na decisão e, nos penáltis, o karma pairou de imediato sobre Félix, com a Lei de Murphy a esticar os tentáculos, uma vez que os franceses, avisados sobre Diogo Costa, até mudaram o alinhamento de marcadores para lhe dificultar a missão: Barcola e Koundé não tinham atirado antes na carreira, não havia referências.

 Perdeu-se grande oportunidade, mas a vida continua. Esta geração tem muito para dar, mas Martínez precisa quebrar o ciclo e já poderá ser demasiado tarde, se olharmos para a idade das outras figuras. Agradeçamos a Pepe e Ronaldo. Ambos mereciam outra despedida, porém não será pela eternização que a conseguirão. O legado será único e os bons exemplos também.

Orlando Fernandes