A criminalidade nas escolas está a subir, a par da delinquência juvenil. Quando tanto se dizia que a seguir à pandemia íamos ser melhores Seres Humanos…
No desporto não é diferente. A competição-conflito está enraizada desde muito cedo nas nossas crianças. E todos sabemos que as crianças são o espelho dos nossos comportamentos.
Muitas situações não são tornadas públicas porque os clubes, no seu direito, tendem a abafar e esconder para não criarem má imagem. Mas são transversais as más práticas e quase sempre protagonizadas pelos familiares das crianças e jovens em contexto desportivo.
A violência em competições no desporto não profissional, sobretudo aquelas em que estão envolvidos escalões etários mais baixos, é fator de risco. Por muito que tentem dizer que não é assim, ou não foi assim, a verdade é que “o povo aumenta, mas não inventa”.
Esta vertente, da violência verbal e/ou física, é objeto de análise pela Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto e pelas comissões de crianças e jovens em risco em todo o país. Ultrapassa a justiça desportiva.
Atualmente, as crianças e os jovens apresentam características de desenvolvimento emocional cada vez mais deficitário, nomeadamente no que diz respeito à capacidade para lidar com a frustração e para controlar os próprios impulsos. Apresentam, ainda, pouca preocupação em relação ao sofrimento que provocam ao outro. Baixa autoestima, isolamento e problemas de sono são sintomas identificados. São um barril de pólvora.
A vontade de vencer é inerente à prática desportiva, mas o jovem tem de saber vencer e perder, que o mesmo é dizer que tem de saber respeitar e respeitar-se, como vencedor e como vencido, dado que a prática desportiva tem como objetivo primeiro o desenvolvimento de todos e de cada um dos seres humanos. A tenacidade de um jovem atleta tem um valor incalculável na sua formação para a vida.
Desta forma, e reconhecendo que na essência da competição existe sempre oposição, devemos olhar o adversário como o elemento que alimenta o nosso aperfeiçoamento quotidiano e nos obriga a evoluir, e nunca como um inimigo a abater. Ele é quem nos desafia e vice-versa. Mas só é adversário durante a competição. Fora dela é um colega que pratica a mesma modalidade e que devemos sempre respeitar.
O desporto é uma atividade com valores, que forma indivíduos disciplinados, e estes trabalham diariamente em busca da sua superação, respeitando as regras existentes. A ética desportiva é isto: o respeito pelo outro, pelas regras, pela modalidade (desporto) e pelo nosso corpo.
Só um desporto com esta visão será capaz de continuar a atrair praticantes, adeptos e patrocinadores. O desporto-conflito afasta tudo e todos. O “produto”, qualquer dia, nem para os paineleiros serve.
Vítor Santos (Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto)