Nos dias de hoje, cada vez mais são as mães a acompanharem os filhos na prática desportiva. Nos jogos essa presença é partilhada com o pai, mas nas atividades propostas pelo clube fora do campo (ações de formação, festas, manifestações de solidariedade, etc.) são as mães quem marcam a sua presença.
Nos jogos é normal assistirmos a uma mãe dar um grito e levar as mãos à cabeça quando o filho sofre falta. A sua reação é instantânea. Muitas vezes correm imediatamente para a linha lateral tentando comunicar com o filho. Porém, não é necessário nem desejável que o façam. Naquele momento, ele tem a seu lado as pessoas que têm o dever e o direito de intervir: o massagista, o fisioterapeuta e o árbitro. Nem o treinador pode entrar no campo. Por isso, qualquer tentativa de intervenção dos familiares, neste caso da mãe, só faz ruído e transmite para dentro do campo uma fragilidade que o atleta (que é o seu filho) não tem.
Não subestime os seus filhos!
Eles são bem mais fortes do que pensa!
É seguro que o sentimento de mãe é ilimitado e este comportamento é compreensível dentro de certos limites, mas a criança/jovem que está em campo irá, em centenas de vozes que vêm da bancada, sempre reconhecer a da sua mãe. Dependendo de cada criança/jovem, porque cada indivíduo tem sensibilidades diferentes, estes podem ficar envergonhados e condicionados quando percebem que são objeto de uma angústia descontrolada. Um atleta reconhece-se pela sua tenacidade. Ora, esta só é alcançada se ele tiver autonomia e espaço para a construir.
Às mães, apelo a que não percam essa angústia, esse instinto protetor, mas que aprendam a proteger sem exagerar, transformando o vosso comportamento num motivo de orgulho para os vossos filhos. No final do treino ou do jogo, quando lhe derem um beijo, transmitam-lhe o quanto estão orgulhosas: “Estou muito orgulhosa de ti”; “És forte meu filho” ou “Os atletas são assim como tu: valentes”. Vão ver que ele já nem se lembra da dor que sentiu no jogo.
As mães colocam sempre mais a tónica na felicidade dos filhos, e bem, em vez de a colocar nos resultados imediatos. Sorriem por cada momento vivido pelo seu filho e incentivam-no a aprender com os erros e a saborear as conquistas. As mães são, entre os adultos, a melhor das fações.
As mães são de uma sensibilidade extrema e temos muito a ganhar com esse sentimento materno. Através delas podemos promover, mais e melhor, a ética e o fair play no desporto, que só trazem benefícios tanto para as crianças quanto para a sociedade como um todo. Na realidade, entendo que são as mães o principal veículo de transmissão dos valores da prática desportiva às crianças. Estes valores contribuem para o desenvolvimento de caráter e estimulam a disciplina, o trabalho em equipa, a resiliência e o respeito. Além disso, fomentam a integração social, proporcionando oportunidades de interação entre pessoas de diferentes origens e culturas.
Queridas mães, desfrutem dos jogos! Desejem que os vossos filhos sejam felizes no desporto não só quando tiverem a idade adulta, mas em todos os momentos, incluindo no presente. Usufruam de cada etapa. De cada momento. O futuro será o que tiver de ser, mas que seja construído sobre uma escadaria de experiências felizes, divertidas e enriquecedoras.
Obrigado, mãe! Todos os desportistas têm muito presente esta gratidão.
Vitor Santos (Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto)