Morreu Manuel Fernandes. Antigo jogador, treinador e dirigente, dedicou a vida ao seu Sporting e não só, passando por outros clubes, designadamente Vitória FC, Santa Clara, Penafiel, União de Leiria, ou o saudoso Campomaiorense. Figura respeitada por todos, foi ovacionado e relembrado por muitos no último fim de semana, desde adeptos, a figuras marcantes do desporto nacional e inclusivamente, pelos presidentes dos rivais Benfica e FC Porto, que fizeram questão de marcar presença no último adeus ao goleador de Sarilhos Pequenos.
Enquanto jogador, o percurso de Manuel Fernandes confunde-se com o percurso do Sporting. Não o vi jogar, mas relembro relatos do meu pai sobre os seus feitos e golos, sendo mesmo o segundo jogador com mais golos na história do clube (257). Referência ofensiva dos leões entre 1975 e 1987, é também o jogador com mais jogos na Primeira L:iga (486), onde foi o melhor marcador em 1985/86. Essa marca não lhe valeu a chamada ao Mundial 1986, naquela que foi uma surpresa à época, ou talvez não, na medida em que a Federação não era o que é hoje e existia uma grande divisão/rivalidade entre o Norte e o Sul, simbolizadas nas grandes equipas de Benfica e FC Porto, que reuniam a quase totalidade dos convocados, tanto em 1984 como em 1986.
No entanto, a poucas presenças de Manuel Fernandes na Selecção (30 internacionalizações e nenhuma presença em fases finais) não mancha aquele que foi o seu percurso enquanto atleta, sendo que conseguiu vencer dois campeonatos, duas Taças de Portugal e uma Supertaça. Como treinador conseguiu também alguns troféus. Mas é como jogador e eterno capitão do Sporting que será sempre relembrado. Além dessa marca impressionante na memória de muitos, Manuel Fernandes era, igualmente alguém que fazia a diferença pela sua simplicidade e genuinidade e também por aí a sua morte gerou um consenso raro e um ambiente de paz que têm sido raros no futebol português. Ainda foi a tempo de assistir ao último título de campeão nacional dos leões, sendo que Francisco Varandas fez questão de lhes mostrar a taça, em pleno hospital, e numa fase crítica, num, gesto bonito e impactante.
O passado dos clubes deve estar sempre presente, e num clube com tão poucas referências vivas, uma vez que Manuel Fernandes pertence a uma geração de jogadores que partiu com a Lei Bosman, isto é, a partir do momento em que o futebol internacional se tornou acessível a todos e os jogadores passaram a trocar de camisola com regularidade, é importante preservar aqueles que tantas alegrias proporcionaram e contribuíram, quiçá, para o aumento do número de adeptos do clube.
E não há dúvida de que Manuel Fernandes foi um dos grandes e que deixa um legado para sempre.