Muitos olhavam-no como se estivesse no chão, depois de anos de glória e de brilho mágico que o tornou num dos treinadores mais vencedores e carismáticos da história do futebol. Se calhar, José Mourinho até pedia estar perto do chão, mas a verdade é que a força dos homens vê-se nos momentos mais delicados da vida.
Mesmo sem a magia de outros tempos, nem futebol sedutor que foi uma imagem de marca no FC Porto, voltou a mostrar uma capacidade de se reinventar que só os mais ambiciosos são capazes de conseguir. Levou a Roma à conquista da Liga Conferência, nunca perdeu uma final europeia e é o único treinador que ganhou todas as atuais competições continentais.
Em parte, esta vitória fez José Mourinho voltar às origens, porque uma coisa é ganhar uma prova europeia pelo Inter de Milão ou pelo Manchester United clubes ricos aristocratas e com grande peso histórico, outra coisa é consegui-la numa Roma sem a força do passado ou garanti-la ao serviço de um outsider como era o FC Porto no início do século.
Ao longo de mais de 20 anos de carreira como treinador principal José Mourinho teve o mérito de criar um estilo e uma identidade que serviram de inspiração e mudaram a face do futebol mundial. A questão dos mind games – os jogos de futebol começam na sala de imprensa e só depois se disputam no relvado -, a forma de incutir confiança nos jogadores, colocando-lhes uma sede quase infinita de vencer e ainda a parte mais técnica do futebol fazem dele um pioneiro.
Sempre valorizou a importância de preparar um jogo, focando-se no detalhe nos movimentos dos jogadores adversários e nos pontos fortes e fracos, José Mourinho tem um enorme legado de títulos e vitórias, tornando-se num dos treinadores mais marcantes de sempre.
Mas mais do que os títulos, toda esta forma de agir é que se tornou especial e fez história num homem que, por muito rico e ganhador que seja, nunca perdeu a fome de vencer.
Orlando Fernandes (jornalista)