Tão Perto

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No final, só pode ganhar um. E era mais ou menos evidente que as probabilidades estavam contra Abel. O Flamengo sempre pareceu mais forte durante a temporada. Voltou a reforçar a ideia agora em Lima na final da Libertadores, algo que deverá repetir no que resta de Brasileirão.

Ficará certamente sabor muito amargo na boca do treinador português. Andou perto, quase tocou no céu outra vez, porém acabou derrubado na praia. No embate entre os dois melhores plantéis do futebol brasileiro, mesmo com a disciplina imposta, com o compromisso inegociável, com todos os jogadores focados no objetivo, venceu aquele que, afinal, joga melhor. Talvez tenha melhor equipa, talvez não, mas sobretudo apresenta um futebol mais fluído e ofensivo. Ganha os jogos mais difíceis com maior naturalidade. E poderia ser só talento, mas também tem no banco em um ex-jogador que bebeu de inúmeras influências e trouxe consigo muitos ideais europeus na bagagem.

Abel Ferreira passou por uma evolução positiva durante a temporada. Começou mal, contudo reinventou-se, muito graças à química criada entre Vítor Roque e Flaco Lópes. Resolveu muitos problemas de um Palmeiras nem sempre muito criativo. A quebra nas últimas semanas coincide curiosamente com exibições menos conseguidas de ambos. Houve sempre a luta, sempre a crença, todavia, quando os dois não responderam, o modelo não conseguiu dar o necessário passo em frente. E o líder fez que o pôde. Até abdicou do que parecia mais complicado de atingir, o título acreditando que quando os melhores recuperassem forças a consistência voltaria.

Abel Ferreira é o melhor treinador da história do Palmeiras. Quando embarcou nessa viagem talvez não esperasse chegar tão longe. Ou pelo menos tão rápido tão longe. Tem o respeito de todos. Apesar de tudo isso, parece-me mais ou menos evidente que enquanto existirem Flamengos a este nível vai precisar de acrescentar algo mais à sua ideia quando os seus tiverem a bola nos pés.


Não gosto de vitórias morais. Nem de desculpas. As finais são para se ganhar e, quando isso não acontece, é necessário perceber porquê. Não sei o que vai acontecer com Abel. Acredito que fique. O Palmeiras precisa que fique. O que dá ao clube muito provavelmente não será fácil de encontrar num outro nome. Pelo menos um que mantenha este registo de andar sempre na luta. Contudo, pode – e deve – fazer algo mais por si.

Orlando Fernandes