Os sócios no Rio Ave aprovaram, no último domingo, em Assembleia Geral, a constituição de uma SAD e a entrada de um investidor no clube. Numa votação claramente afirmativa (400 votos a favor conta 60 divididos entre votos contra e nulos), os sócios Vila-Condenses disseram presente e demonstraram que querem um novo rumo para os próximos anos.
Na verdade, trata-se de uma decisão que pode transformar a estrutura do conjunto dos Arcos com o grego Evangelos Marinakis, que já investiu no Olympiacos e, ainda, no Nottingham Forest, a deter 80% do capital da SAD. No imediato, a ideia passará por pagar dívidas, garantir o cumprimento das obrigações até final da época e reequilibar o orçamento, mas há igualmente a promessa de investimento de 20,5 milhões de euros até junho de 2024, associados ao reforço do plantel, mas também à melhoria das infraestruturas, desde o estádio à academia de formação. Ora, há alguns anos que o Rio Ave tem uma ligação próxima com Jorge Mendes e a Gestifute, que será agora reforçada com o apoio de Marinakis, outro dos habituais parceiros do empresário português.
A dúvida é se este investimento estrangeiro poderá revitalizar um clube que tem ´saltado´ entre o primeiro e o segundo escalão nos últimos tempos, mas que está numa região do país endinheirada e onde apenas o FC Porto se impõe de forma declarada. O investimento estrangeiro em clubes portugueses é sempre algo que levanta dúvidas, sobretudo pela forma como ocorre muitas vezes, pelo que tudo o que seja uma aproximação aos casos de Beira-Mar Desportivo das Aves, ou Olhanenses é de evitar.
No entanto, existem também exemplos positivos, como o Portimonense ou o Famalicão que têm solidificado a sua posição no futebol português, ao passo que clubes como o Sporting, o SC Braga ou Vitório SC, apesar de continuarem a ter a maioria do capital da SAD internamente, também já abriram a porta à entrada de investidores estrangeiros. Convém realçar que o Rio Ave vem de várias janelas de transferências sem poder contratar, precisamente devido a irregularidades financeiras num passado recente, pelo que este capital poderá ser determinante para segurar a equipa na I Liga. Já muito Luís Freire tem feito ao leme da equipa, mas são precisos ajustes no elenco já no mercado de inverno.
No fundo, os clubes ditos “pequenos” estão cada vez mais encurralados no modelo de gestão tradicional e esta poderá ser a única alternativa para se manterem competitivos e não se afastarem de forma astronómica dos “grandes”, enquanto a centralização dos direitos televisivos não é discutida a sério pela Liga.
Orlando Fernandes