Na vida, tudo tem um princípio e um fim, e o mais importante é a marca que se deixa ao longo do caminho. Mas para avaliar o impacto dessa marca, sem que a poeira que ainda não assentou nos turve o olhar, é preciso dar tempo ao tempo, criar aquilo que se convencionou chamar de distanciamento histórico. Só cumprido esse requisito será possível, com uma visão de 360 graus, aferir os méritos e os deméritos do objeto de estudo.
Vem este introito a propósito da saída do Benfica de Domingos Soares de Oliveira, homem forte das finanças do clube desde março e 2004, e um dos pilares da refundação encarnada, depois da terra queimada deixada por Vale e Azevedo, que Manuel Vilarinho teve o mérito de derrubar.
Num contexto de presidencialismo de Luís Filipe Vieira (a quem a história se encarregará também de colocar no patamar certo do benfiquismo), que se foi acentuando à medida que os anos passados, Soares de Oliveira foi capaz de ganhar espaço próprio – porque lhe foi reconhecida extraordinária competência – e, sem nunca se preocupar em ganhar qualquer concurso e simpatia, ajudou Benfica a sais do buraco negro para onde tinha sido sugado.
O profissionalismo que colocou nas suas ações foi reconhecido nacional e internacionalmente, pelo que não se estranham as inúmeras ofertas, dos mais diversos pontos do globo, que recebeu desde que ficou claro que o seu ciclo na Luz estava cumprido. Deverá seguir-se uma experiência na Arábia Saudita, que além de futebolistas que ofereçam visibilidade à sua Liga precisa de profissionais de topo, suscetíveis de rentabilizar, através de uma otimização organizativa, o investimento milionário que está a ser feito.
Não será fácil, no Benfica preencher o vazio deixado por Domingos Soares de Oliveira, muito menos marcar de forma indelével um antes e um depois como CFO cessante fez. Mas os cemitérios estão cheios de insubstituíveis e novas dinâmicas serão implementadas, por pessoas que apostam num processo de renovação e estão conscientes da responsabilidade que assumiram. Mal o Benfica, ou de qualquer clube, se alguma vez estiver dependente de uma só figura, por mais marcante que seja, por mais competente que seja, como é o caso de Domingos Soares de Oliveira.
Orlando Fernandes