É uma palavra que ouvimos de tempos a tempos sobretudo no contexto da sua ausência. O da falta de estofo de campeão. Nesta época, se calhar podemos aplicá-la a Benfica, depois do duplo desaire diante de Sporting e SC Braga logo após chegar à liderança, a FC Porto, que teve oportunidade de isolar na frente e foi derrotado na Choupana pelo aflito, mas competitivo, Nacional, e talvez também ao Sporting, que não só ameaçou implodir com a troca de treinador como, já com um terceiro ao leme, não passou em Guimarães, na sequência do dérbi.

 Dos três grandes, é o leão aquele que mais atenuantes possui: o processo tem semanas e não meses, e há muitos problemas físicos em jogadores nucleares. Se isto pouco ou nada quer dizer, porque na realidade um deles irá mesmo festejar o título – num país irá avesso a surpresas não surgiu uma única sombra a atemorizar o status quo -, há uma questão que podemos extrair: ou muito muda na segunda volta ou estaremos perante um campeonato do menos mau, que rapidamente se tornara apensas um número nos livros de história, sem heróis ou feitos para contar.

No caso dos homens de Vítor Bruno, o único dos treinadores dos três grandes que começou a temporada, ainda que sua vantagem sobre os demais apenas se estenda até ao momento da cisão com Conceição, o problema tem sido sobretudo a gestão de expectativas.

 Sempre que o clube se aproxima do primeiro lugar, o discurso absorve uma responsabilidade que não se adequa à massa crítica mesmo que o calendário ainda trace a rota dos rivais pelo Dragão na segunda volta. Há um grupo menos talentoso, que inclui fragilidades nas referências de liderança e na profundidade. Num ano zero, claro que deve haver exigência, mas não ansiedade ou drama em demasia. A descida aos infernos, de preferência curta, faz parte do processo. Ser competitivo já será muito bom.

Orlando Fernandes