A saída de Roger Schmidt era inevitável, já o era no final da época passada, mantê-lo foi apenas adiar o inadiável e prolongar ainda mais a crise no Benfica. Apesar de uma pré-época que correu bem e com a chegada de Pavlidis que parecia encher os olhos e a esperança dos adeptos, o início do campeonato não foi bem e, desde o primeiro jogo, a insatisfação e revolta dos adeptos eram evidentes e, desta feita, não só em relação a Roger Schmidt, mas também com o apontar de dedos e responsabilidade a Rui Costa. A vontade manifestada por aletas em sair do clube é reveladora do mau-estar no plantel; os adeptos ficaram cada vez mais intolerantes e sedentos de mudança, pelo que Rui Costa poderá não ser perdoado por outro erro.
O momento exigia uma escolha cuidada, e as teorias da liderança dizem nos que, em momentos de crise, poderemos precisar de líderes autocráticos ou carismáticos. Rui Costa precisa de um técnico que reúna em si os dois. Precisa urgentemente de reformular o jogo da equipa, de ganhar e, para isso, precisa de um líder que, sem medos e sem receios, tome decisões, que tenha boas ideias de jogo, mas que acima de tudo as aplique sem hesitar, pois não tem muito tempo a perder. Mas também precisa de um líder carismático. Este líder deveria ter competência para inspirar e envolver jogadores, mas também adeptos, através de uma personalidade magnética e comunicação poderosa.
Sérgio Conceição reunia em si estes dois atributos. É, sem dúvida, autocrático e a sua paixão e garra no desporto aproximam os adeptos e os atletas. Mas, muito provavelmente, a tolerância, com qualquer falha do treinador também seria muito baixa, sobretudo pela sua ligação ao FC Porto, e rapidamente as responsabilidades seriam imputadas a Rui Costa. A sua não escolha é uma decisão que evita o risco.
Bruno Lage, claramente, não tem o carisma que seria desejado para o momento, não é um virar de página, mas sim um recuar na página. Basta recordar que saiu numa situação muito semelhante; além disso, desde a sua saída, ainda não se conseguiu impor totalmente em nenhum outro campeonato. Parece uma escolha que fica aquém da ousadia que o momento exigia.Com certeza não é a mudança que os adeptos esperavam, não é uma novidade sem história. Pelo contrário, é um treinador bem conhecido da massa adepta e que já não reunia consenso anteriormente, nem dentro nem fora de campo. Para Rui Costa, esta poderá ser a decisão chave, não só para a época do Benfica, mas poderá também ditar a sua continuidade ou não à frente dos destinos do clube.
Orlando Fernandes