Decorria o minuto 93 no Estádio da Luz quando o cenário de crise pairava no ar. O Benfica perdia em casa com o eterno rival e a perspetiva de ficar a seis pontos de distância do primeiro lugar parecia bem real. Contudo, do fundo do poço, a alma benfiquista, personificada e João Neves, resgatou a equipa e permitiu dar a volta ao marcador em poucos minutos, perante um Sporting atónico com o que lhes estava a acontecer. Final à Hitchcok, numa partida bem disputada, emotiva e que os candidatos ao título mais próximos no final da jornada. Mas vamos ao jogo, Roger Schmidt cumpriu o desejo dos adeptos e refez a linha de quatro defesas, com Morato a surgir inesperadamente como lateral esquerdo e João Neves a regressar no meio-campo. O internacional português cresce sempre nestes desafios e, além do golo, venceu 17 (!) duelos e levou a equipa para a frente. As águias tiveram várias ocasiões de golo, sobretudo no primeiro tempo, mas foi o Sporting a sair na frente. Gyokeres tornou a fazer miséria, num arranque ao seu estilo, após um brilhante lance de Marcus Edwards à saída do meio-campo. Os leões pareciam confortáveis, tanto taticamente como pelo lado psicológico que uma vantagem no terreno do rival traz sempre.
No entanto, o minuto 51 tudo mudou, Gonçalo Inácio foi expulso e deixou a equipa reduzida a 10. Tal como, frente ao FC Porto, os encarnados voltaram a disputar um jogo grande contra 10, o que tirou ímpeto atacante aos verdes e brancos e levou a que se acantonassem na sua grande área. Coates foi mandano nesse período, à medida que Roger Schmidt introduzia avançados dentro das quatro linhas e ordenava aos flanqueadores que cruzassem de forma constante, mas a festa viria mesmo a ser vermelha e branca. As substituições não ajudaram o Sporting, sendo notória a diferença de nível à medida que Rúben Amorim foi forçado a mexer (Nuno Santos, Trincão e Paulinho não dão o mesmo que Edwards, Matheus Reis e Morita), mas o empate até surgiu num bola parada e de um forma explicável, na medida em que João Neves finalizou completamente sozinho na grande área, tendo tempo para dominar e fuzilar Adán.
A partir daí, o céu caiu sobre a cabeça dos leões, que viraram leõezinhos. O Sporting optou por não travar o Benfica logo na construção e as águias conseguiram entrar na área e criar um 2-1 que incendiou as bancadas. Triunfo claramente mais com o coração do que com a cabeça, uma vez que a qualidade do futebol apresentado, nesta fase, não é muita, mas que deixa tudo em aberto no topo da classificação e deixa os benfiquistas a sonhar.
Orlando Fernandes