Foi sentado num sofá, descontraído, com roupa casual e ao lado do amigo Rio Ferdinand que Cristiano Ronaldo o disse em voz alta: quer chegar aos 1000 golos marcados Quando atrás do microfone está um jornalista, já o terão ouvido dizer qualquer coisa como: “Eu não bato recordes, os recordes é que me perseguem.” Mas pelos vistos o canal no You Tube não traz só entrevistas destas para milhões de seguidores (e recordes!), também traz um bocadinho de sinceridade.

 O que é certo é que 901 já lá vão e, segundo as contas que Rogério Azevedo já fez, se demorar o mesmo tempo a marcar os próximos 99 do que os últimos 100, Ronaldo vai chegar aos 1000 algures na primavera de 2027, com 42 anos. Parece difícil, mas nisto sou como Roberto Martínez: “Acho que ninguém pode dizer que o Cristiano não pode fazer alguma coisa.” Sendo que, ao contrário do selecionador, eu não poderei fazer nada para o ajudar.

 O que o Euro-2024 e os dois jogos na Liga das Nações demonstraram é que tudo é possível. CR7 jogar até aos 42 anos? Possível. CR7 continuar a marcar muitos golos? Provável. CR7 ser titular em jogos que não contam (Geórgia) para tentar marcar? Presumível. CR7 continuar a jogar pela Seleção até tomar a decisão “espontânea, mas muito pensada” de sair. Plausível. CR7 terminar a carreira na Arábia Saudita, com menor exigência competitiva, mas que conta para os recordes na mesma? Viável.

 Ronaldo é dono o senhor da sua carreira, dos seus objetivos das suas redes sociais, dos seus recordes, do seu ego e de tudo o que conquistou e – não duvido – ainda vai conquistar até se retirar. E bem podemos continuar a reflectir sobre o que seria a Seleção com menos CR7 até à primavera de 2027: se jogaria melhor, se teria outros protagonistas, se ganharia mais. Isso pouco importa quando ele marca e o estádio fica vários minutos seguidos a cantar por ele.

 Portugal e Cristiano e Cristiano é ainda mais Portugal desde que está longe do futebol europeu. Quando a Seleção ganha fala-se de Ronaldo, quando a Seleção perde também e quando a Seleção marca ou Ronaldo, ou se procura pelo que Ronaldo fez na jogada. No Euro só o relatório confidencial de Roberto Martínez viu um bom Cristiano, mas contra a Croácia e a Escócia não foi segredo nenhum: CR7 vai marcar quase sempre e Portugal não tem outro como ele nisto (com Gonçalo Ramos lesionado, até não tem mesmo outro). Talvez esta devesse passar a ser a nossa preocupação – e não Ronaldo. Afinal, temos até à primavera de 2027 para resolver isto.

Orlando Fernandes