À quarta foi mesmo de vez. O Vilar de Perdizes carimbou o passaporte da manutenção, em ano particularmente difícil, com a descida de seis equipas.

O Vilar conseguiu aquilo que, para muitos (inclusive eu) era impossível, a manutenção.

Com um orçamento baixo, a jogar todos os encontros em Chaves – casa emprestada –, o Vilar soube fazer das limitações forças, e do trabalho e raça armas contra adversários com outra capacidade económica e condições de trabalho.

Foi difícil. No jogo decisivo, foi preciso suar e sofrer, o Merelinense precisava de ganhar e a verdade é que entrou melhor na partida.

Aos 11´, Bertinho obriga Palha a defesa apertada. Responde Elias com remate à figura. Bertinho estava a manobrar a seu belo prazer e faz um golo de belo efeito à passagem dos dezasseis minutos.

A reação do Vilar tardou – o Merelinense estava confortável no jogo -, mas Elias passa por dois adversários, faltando apenas o desvio para o fundo da baliza depois de cruzamento venenoso. Aos 37´, Hudson serve Beto que está perto do desvio fatal… Antes do intervalo, o mesmo Beto, em boa posição, atira por cima da trave.

Ao intervalo, o empate era o resultado mais justo, mas era a equipa minhota que estava por cima no marcador.

O Vilar precisava de um golo para fechar o campeonato e Gamito introduz em campo Badará e Diogo Almeida.

O Merelinense encolheu-se, o Vilar assumiu em definitivo as rédeas do jogo, e na sequência de um canto bem apontado por Tomás Oliveira, Neto atira ao ferro da baliza minhota.

A equipa transmontana continuou a porfiar no ataque e Edu é travado à margem da lei dentro da área. Badará encarregou-se de empatar, com disparo forte à baliza. Beto, Sadidi e Badará ainda tiveram oportunidades para dar o triunfo aos Gverreiros da Raia que, na minha opinião, mereciam os três pontos.

O Merelinense esteve bem na primeira parte, mas muito aquém do desejado na etapa complementar. Faltou ao emblema minhoto mais audácia contraofensiva e maior capacidade de pressão.

A equipa de arbitragem fez um trabalho positivo. Badra Camara, do Vilar de Perdizes, foi o melhor em campo. Impressionante a energia deste atleta africano, natural da Costa do Marfim.

O presidente do Vilar de Perdizes, Márcio Rodrigues, ajoelhou-se no relvado, chorou de emoção e não garante a continuidade do clube no CP: “Fizemos o maior milagre do futebol nacional dos últimos 30 anos. Temos uma alma do caraças. Somos um exemplo a nível nacional, com um orçamento limitadíssimo. O Vilar de Perdizes, ao dia de hoje, 99,9% de certeza que não irá competir no escalão sénior na próxima época”.

Vítor Gamito, treinador do Vilar de Perdizes, conseguiu o objetivo e foi molhado pelos atletas em plena conferência de imprensa: “Está concluído um objetivo extremamente difícil. Neste formato, equivale a ser cinco vezes campeão, penso que esta equipa, sem falsas modéstias, vai ser recordada e ficar na história do futebol transmontano. Quero dedicar esta vitória ao presidente. Superámo-nos no binómio adversidade e trabalho.”

Complexo Desportivo Francisco Carvalho, em Chaves.

Vilar de Perdizes – Merelinense, 1-1.

Árbitro: João Loureiro (AF Viana do Castelo).

Vilar de Perdizes: Palha, Parente (Diogo Almeida 46), Jane Moreno ©, Edu, Neto (Fábio Pais 77), Badra Camara, Tomás Oliveira (Riquelme 77), Gonçalo ( Badará 46 ), Beto Lopez, Hudson e Elias (Sadidi 77).

Treinador: Vítor Gamito.

Merelinense: Ismael, Rui Sá ©, Matheus (Tiago Portela 80), Bertinho (Hugo Balão 58), Miguel Dias, Diogo Neto, Samate, Rui Silva, Rui Ferreira, Gonçalo e Serginho (Diogo Araújo 85).

Treinador: Quim Berto

Ao intervalo: 0-1.

Golos : 0-1, Bertinho (16); 1-1, Badará (83, pen.).

Ação disciplinar: cartão amarelo para Neto (43), Gonçalo do Merelinense (45), Camara (72), Fábio Pais (81), Rui Silva (81) e Beto (90+1).

Por Nuno Carvalho

Foto: GD Vilar de Perdizes