Rui Costa referindo-se à venda centralizada dos direitos televisivos, afirmou que “o Benfica não irá cumprir lei se sentir prejudicado”. Na prática, limitou-se, a verbalizar o que está na cabeça de todos os clubes. Ficou claro, quando se iniciou o debate sobre a centralização, que ninguém ficaria a perder, o que a acontecer seria, no minino, bizarro já que se fala no aumento do encaixe de 160 para 300 milhões anuais. À imagem do que sucedeu em Espanha com Real Madrid e Barcelona, que passaram a receber um pouco mais depois da centralização, enquanto os restantes clubs tiveram direito a um aumento realmente significativo, por cá os que são mais bem remunerados, Benfica, FC Porto e Sporting, dizem estar recetivos a aderir a esse principio. Mas nunca esteve sobre a mesa que, perante um aumento global de receitas na ordem dos 87,5 por cento, alguém passasse a receber menos. Foi esse o sentido da declaração de Rui Costa.

 Porém, algumas dúvidas continuam a estar presentes neste processo, que porque muitos clubes já receberam antecipadamente (e gastaram) aquilo a que só deveria ter direito nos próximos anos, não deverá ter pernas para andar antes de 2028, ou seja, com pelo menos 15 a 20 anos de atraso relativamente ao desejável. De onde vem este aumento de 85 por cento prometido? Quem vai pagar? Ou já está a ser pago, e anda por aí, disperso em fatias? O nosso mercado é o que é, só os jogos que envolvem os grandes têm valor relevante num contexto internacional, e somos uma Liga com equipas a mais onde há 20 pontos a separar o quarto do quinto. Por isso, enquanto se mantiver este estado das coisas, até que ponto temos um produto televisivo que se torne numa exportação de sucesso? Se a centralização garantir aos grandes apenas mais um euro relativamente ao que recebem, e a todos os outros aumentos importantes, as condições passarão a estar mais equilibradas e é isso que se pretende. Há muito a refletir pelos governantes também, e Rui Costa não fez mais do que constatar o óbvio: ninguém (é só perguntar a FC Porto o Sporting…) aceitará, num contexto de centralização, passar a receber menos. A Liga parece muito segura de que será possível atingir um mínimo de 300 milhões por época. Como dizia muitas vezes Sven-Goran Eriksson, “vamos ver”…

Orlando Fernandes