A Verdade Desportiva da Formação no Futsal -a “selvageria” chegou à formação

Com todo o respeito pelos animais, é claro. Não podemos atropelar tudo aquilo que se anda a apregoar o ano inteiro, só porque o nosso interesse e objetivo mudou. E aí, não olhamos a nada.

Não olhamos à ética desportiva, não olhamos aos bons relacionamentos com os outros clubes, não olhamos a nada. Simplesmente porque o interesse está em nós, no nosso umbigo e não nos outros.

São estas atitudes execráveis, sem nexo, sem sentido, sem razão de ser, que vão terminar com que alguns clubes queiram continuar a formar valores nos próximos tempos. Formar para quê? Ter trabalho para quê? Se depois aparece uma abordagem menos feliz e nos tentam tirar o melhor ou os melhores jogadores.

De que vale a pena andarmos a pedir competitividade junto da AF, pedimos uma competição mais saudável, se depois o que realmente vale a pena é ganhar, e não formar?

O certo é que em todos os finais de épocas, os jogos de bastidores, as jogadas sujas nas costas de quem antes pensamos que existe cordialidade, a falta de transparência e sobretudo a falta de honestidade e integridade começam a proliferar no Futsal de formação.

Aqui, no nosso cantinho de Trás-os-Montes, por de “trás das pedras” como alguém costuma dizer, começa a usar-se cada vez mais o ganhar ao invés do formar.

E isso vai ser mau meus amigos, muito mau.

Somos um distrito de baixa densidade populacional, toda a gente sabe disso. A maior parte dos clubes aqui no distrito de Vila Real sabem as dificuldades que têm para ter equipas seniores nos nacionais. Isto, porque a certificação da FPF exige que essas equipas tenham um número de equipas de formação em competição para que os seniores possam competir na divisão em que estão, em função de cumprirem essas obrigações.

Sim, é verdade. Neste momento não basta conseguir os objetivos via classificação. Se tiveres uma equipa num dos patamares nacionais da modalidade e, por exemplo, não consegues cumprir com o teres as equipas de formação exigidas a competir, ou até não conseguires as estrelas necessárias para certificares o clube para manteres na divisão em que estás, independentemente de qual seja, desces.

E é aqui, dentro deste imbróglio, que tem surgido de há uns tempos para cá, este desiderato.

O ganhar em vez de formar.

O maior erro que se vai cometer na formação.

Todos os anos, seja em eventos de formação, seja em colóquios, tertúlias, seja até nas ações de formação que os clubes em processo de formação têm de realizar, salta sempre o mesmo veredito: a formação será a base do futuro da nossa modalidade.

Temos de formar para que os nossos clubes sejam sustentáveis, para que consigamos, dentro das dificuldades, mantermo-nos por aqui, para não deixarmos de ser vistos, ou até para não desaparecermos do mapa nacional da modalidade.

E o que alguns espertos na matéria fazem? Esquecem tudo isso que é falado, tudo o que é transmitido aos miúdos e depois com abordagens pré-históricas, fazem o oposto do que andam a relatar o ano inteiro.

Não vale tudo para ganhar. Não vale.

Se a luta pelos melhores da formação for igual à que tem existido nos seniores nos últimos anos, a curto médio prazo, só vamos ter algo para lamentar.

Temos, antes de avançar para essas abordagens execráveis, de pensar que, em cada início de época a escolha do clube a representar é sempre uma decisão pessoal e familiar.

E essa decisão não pode nem deve ser feita por “manipuladores” que visam ter resultados imediatos.

E os atletas não podem ser usados neste ou naquele momento porque dá jeito ao clube ou ao treinador.

Se as abordagens continuarem por abordar o atleta e não os clubes onde eles estão inseridos ou até mesmo os pais do mesmo, vamos matar a formação.

Muitos agentes têm de pensar que, mesmo já tendo terminado a competição, não quer dizer que a época do atleta no clube tenha acabado igual.

Deixem de olhar só para o vosso umbigo. Sejam corretos, sejam leais. Não desvirtuem o porquê da formação.

Hoje e, de alguns anos para cá, as seleções jovens das quinas e mesmo as seleções distritais deram um salto qualitativo enorme, fruto do trabalho exercido nas mesmas, mas também nos clubes.

“ À MULHER DE CÉSAR NÃO BASTA SER HONESTA, É PRECISO PARECER HONESTA”

Fernando Parente (Treinador Futsal)